A lembrança traz a saudade na carona.
Olhos esses que me remetiam à mim mesma
quando n'aquela idade busquei minha verdade, como ela.
Minha verdade, que se transformou no
segredo mais profundo de minh'alma.
Segredo esse que rege minhas vontades,
principalmente quando olho nos olhos dela.
Lembro de não pensar em mais nada a não
ser nos cabelos dela.
Cabelos esses, que se emaranhavam em
minhas mãos quando a trazia para perto.
Minhas mãos, que a conduziam paraíso a
dentro.
Paraíso esse, que não me traz mais
nenhuma recordação a não ser os cabelos dela.
Lembro de não querer escrever nada além
de frases esparsas que me remetessem a ela.
Frases essas que ela enfeita de
sorrisos quando não sabe as palavras para completá-las.
Palavras, ainda hei de conhecer todas,
somente para ampará-la.
Tão somente quanto seus beijos me
amparam em meio ao caos sem eles.
Lembro de não sorrir por mais nada além
de seu sorriso.
Sorriso esse, que desmancha palácios e
castelos quando irradiado.
Palácios, que pretendo construir ao
lado dela.
Construir banhado de sorrisos, mas
somente se forem os dela.
Lembro de não escutar nada além de sua
voz, treinando a pronúncia da língua.
Pronúncia essa, que se aproximava da
perfeição sob tal voz aveludada.
Perfeição, era quando a ausência da voz
dela fazia a minha calar.
Ausência essa que atropelou mundos até
se tornar presença.
Lembro de chorar ao lembrar-me dela
chorando pela primeira vez.
Primeira vez essa, depois de outras incontáveis em que não houve
travesseiro que calasse seu grito.
Travesseiro, que a consola quando meu
peito não faz moradia.
Peito esse, que é devorado pelas
lágrimas dela quando ela chora, novamente, pela primeira vez.
Lembro de não estudar ao vê-la vazia de
mim, com seu violão.
Violão esse, que ela só não maneja
melhor do que meu corpo sobre o dela.
Meu corpo, que se tornou o templo de
seus medos, angústias e histórias.
Histórias essas, que deixam-me perplexa
quando em segundos, sem esforço, ficam cheias de mim.
Lembro de não deixar escapar um detalhe
ao senti-la minha.
Detalhe esse, que transborda em sonhos
e planos nada mundanos.
Sonhos, que me remetem a liberdade de
sermos nós, quando sós finalmente.
Liberdade essa que nos algemou, por
trazer a leveza de senti-la minha, sem me pertencer.
Lembro de imaginar que o céu teria as
curvas de suas costas, quando ela se deita.
Costas essas, que já percorreram campos
antes inabitáveis de meus olhos.
Inabitáveis, por não haver vontade de
outras costas que não as dela.
Vontade essa, que ela domina quando em
minha mente, vejo a imagem dos olhos dela.
Lembro de não haver outra imagem em
mente a não ser os olhos dela...
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