Carnaval na nova idade média
Aconteceu na noite de Carnaval. Era o bloco mais colorido da rua, e Carlos animado puxava a marchinha. Foi inevitável. Joana, de olhos azuis e cabelos negros esmaltados atraía olhares por onde passava, menos o dele. No meio da multidão inquieta, observava o rapaz de riso largo pular ao som da sua marcha preferida. O Pierrot avistou-a vestida de paz em meio ao caos carnavalesco. Ela encarava-o, como quem pede abrigo à distância. -Sou sagitário! - gritou em meio a plateia inflamada. - Eu, libra! - Ele a olhou envaidecido. Quisera uma colombina como quem espelha a felicidade noutrem. De mãos dadas, desfilaram na avenida. Sem nomes, sem histórias. Dois corpos desconhecidos compartilhando a vaidade remanescente de outros carnavais, de outras estações. Passeavam pelas estrelas, olhos entrelaçados, vidas infindas nos caracóis dos cabelos de um Pierrot apaixonado. Ao fim da folia, a Colombina parte sem deixar rastros, como se vida fosse vida sem amor, como se amor não fosse vida. O Pierrot cabisbaixo, de coração arrastado no asfalto, retira um bilhete do bolso: "Amor de carnaval, meu bem, termina ao fim da avenida".
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