Ah, seus olhos são espelhos d'água...

Lhe vejo dormir, através de um vidro. Espairecida do cansaço, entrega-se ao filtro dos sonhos que a rege. "Sonhe conosco", lhe rogo, e em contrapartida abres o sorriso mais deslumbrante deste mundo terreno. Fazes de meu peito tua casa e ajusta, assim, cada intempérie demarcada em minha pele. Cada ruga, sabes de cor. Arruma as gavetas de minhas memórias, sempre que me visita. Lhe vislumbro, menina. Espelho em ti meus anseios e por medo do mergulho, já não careço mais de apreço. Tua respiração tranqüila, transmite-me a paz ausente nesta vida fora de mim mesma. Nesta vida que não é vida em tua ausência. Hoje, ausento-me o sono para alegrar-me em tua presença infante. Minha menina mulher, espelho de mim mesma quando decorria por entre alegorias e calabouços da juventude. Chamado de tristeza, o mar cinza onde me escondia hoje faz passeio com tuas luzes joviais, ancorando meus medos na ilha desconhecida do amor. Confidencio: já implorei por coisa mais livre que o amor, quando desconhecia as paisagens por trás de teus olhos. Recita-me tuas prosas, carinha-me com tuas palavras, e lembra-te: quando precisares de abrigo, em teus sonhos hei de fazer moradia. Compunha-me um samba, e traz-me em melodia para quando faltar-me o ar em teus abraços. Clame baixinho, para que os Deuses façam de teus lábios, o meu caminho de casa. Por hora, menina, trago-te nas entrelinhas de minha voz, clamando para que a estrutura de meu prédio suporte tamanho coração enobrecido. Faço pouso em tua terra inabitada. E espero que nada breve.

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