Vinte vinte e uns

Amanhã é 21
Mais um nos incontáveis dozes que nos fazem perder a conta dos meses dentro dos anos que já somos... dois. Lembro de te ver carregar pra fora as mágoas, de te perceber enxugando lágrimas, de te fotografar com sorriso de orelha a orelha e, ainda assim, me encantar como se fosse a primeira vez. Recordo de ser menos par, mais sonhadora de mundo de lápis de cor e dia de chuva e, mesmo indo contra todas as tuas forças, você me ouvir. Lembro de te sentir encolhida no canto, tão presa em si que nem meu colo afagava o tu. Mas aí teu cheiro me cheirava e devagar o 'nós' te abrigava, mais uma vez sem quê de dúvida nenhuma. Recordo como lembrança de criança dos dias de praia e céu azul, de morro, farol, cachoeira e anoitecer com pedido de pra sempre. Lembro de te sentir me abraçar por trás cada vez que o mundo me parecia fugir das mãos lá do alto dos vinte e um cravados no céu de libra e tu, cavaleira de armadura, me resgatava pra casinha de campo. Recordo dos olhares inteiros, de nossos corpos que nunca foram metade, da boca cheia de um coração que já não era mais só meu. Da contagem ansiosa durante a semana, dos pedidos pro tempo, das preces pros astros. Lembro do nada no quarto, do universo particular que o dentro do teu olho abrigava e me convidava pra entrar, fazendo o tempo parar. Lembro, recordo, revivo cada pequeno pedaço do quebra-cabeça de selos que se tornou o rir ao teu lado, o caminhar junto, o dormir dentro. Cada vez que eu transponho uma peça desse imenso jogo de vida, na ânsia da certeza de que encontrei o seu lugar, outra gruda no meu dedo, acumulando outro canto da gente e minha mão vai se tornando um emaranhado de selos sem lugar e tempo certos, o jogo se torna uma brincadeira sem jogador. Aí os tempos verbais erram, as vírgulas são mal colocadas porque a respiração já acelera e a gente esquece de toda essa bobagem de coordenar e subordinar. O eu e o tu nunca são efêmeros como o instante.  O bem se transpõe e o tempo que passa só aumenta a graça de caminhar na avenida de mãos dadas com a sorte de sermos nós. As lembranças fazem parte do presente; este, se torna lembrança; e então o futuro se torna a certeza de que o ontem, o hoje e o amanhã são incontáveis meses de dozes e vinte e uns de nós dois.  

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