vinte e dois dozes





Hoje, antes de dormir, fiquei imaginando a madeira do chão da sala do nosso apartamento. Você gosta dessas cores cadenciadas, claras, e minha única exigência é que seja macio pros meus pés descalços. Quero umas cortinas pesadas, que deem um ar mais místico a fim de isolar a gente do mundo quando só o sofá for suficiente. Eu fico perambulando entre os cômodos, passando a mão nas paredes, medindo quadros, calculando espaços, achando um jeito de pendurar as tais luminárias americanas que a gente combinou de pôr no balcão da cozinha - mas que a instalação elétrica não nos permitiu (ainda). No nosso quarto, não coube meu armário planejado pra ser cozinha (lembra?) e vamos ter que colocar um desses de loja mesmo. Por enquanto, é um empilhado de caixas, uma cama e duas tvs que perfazem o nosso sonho mais bonito de sermos nós, sem cabides. Sem auxílios. A maçaneta da porta ainda está meio dura, já que somos as primeiras habitantes desse apê no prédio mágico que encantou à primeira vista, então não me deixa esquecer de pedir os artefatos de guerra do teu pai pra amaciar ela. Aliás, esqueci de te avisar que encontrei o vizinho quando estava descendo as escadas. O elevador está, de fato, em conserto e o problema do gás é no prédio todo, ou seja, nossos banhos vão continuar sendo frios pelo menos até amanhã. Aproveitei pra conversar com ele sobre como vamos subir uma geladeira e ele disse que as pessoas costumam amarrar e puxar, acredita? Moramos no 8º andar! Parece um tanto impossível de acontecer. Ah, eu sei que você está com saudades de casa, que o combinado inicial era irmos a cada 15 dias, pelo menos. Eu também estou. Sei também que a grana anda curta por esses tempos e nossa massa com salsicha (minha especialidade) tem sido o prato mais elaborado da vizinhança. Lembra quando falávamos que sobreviveríamos tranquilamente sem carne? Pusemos em prática quase todas as coisas que combinamos nas longas conversas antes da decisão final e, sabe, amor, eu nunca estive tão feliz. Conhecemos cidades tão aconchegantes do interior, fugindo do caos urbano. O Canadá, a Irlanda, a Austrália estão debaixo dos alfinetes também. Você me mostrou cafés, a noite estrelada e teu moletom. Mergulhamos fundo quando ainda nem tínhamos certeza de nada e hoje percebemos que valeu a pena toda a paciência pra que os astros permitissem dar certo. Acabei me estendendo no post-it o bilhete de bom dia virou um papel a4. Obrigada. Obrigada por sermos. Bom dia, vida. Assim, meio vocativo, meio substantivo mesmo, porque a minha vida só teve início quando a nossa começou. 
(e agora a gente é feliz e ponto)

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