Quero domingos nas segundas



A verdade é que tu ensurdece meus medos com os olhos. Quando percebo, estou te despindo. Insconscientemente abarcada pelo teu feeling de proteção, de domingo, de pra sempre. Pelo teu cheiro de abraço apertado na chegada, de saudade desesperada na partida. Tu percebe que até hoje meu coração dispara quando nos encostamos? Nos nossos felizes vinte uns, dozes e outubros e agostos e novembros e nas nossas férias beira-mar e quando tu me diz que sabe viver sem mim, mas fica tão ruim de passar o dia e, principalmente, quando diz que me ama muito e não existe mais chão nem som ao nosso redor. Ah, eu que sempre sonhei mas nunca acreditei.
Eu nos dei um mês, tu nos deu três. Hoje, apostamos meses pros tantos casais efêmeros que passam nos nossos dias - que nada de efêmeros têm. Já te repeti incontáveis vezes que eu sonho com nossos agoras, com os domingos na segunda, as terças banhadas da gente. Sentada nessa cadeira, olhando de canto o bilhete de "bons estudos" e ao som de "às vezes te odeio por quase um segundo, mas depois te amo mais"  eu pude perceber o quanto te pertenço sem contestar. O quanto de amor tu me demanda, sem nem estar. Penso em tudo que abrimos mão só para que seja possível a casinha de cerca branca que tu me mandou quando fizemos um mês. Eu, que já queria ser dona do meu tempo bem antes de tê-lo. Tu, que não gostava de planejar longas estadias. Eu, que nunca me satisfiz com agoras e instantes. Tu, que despertava minhas vontades tão antes de tê-las. Eu, que nunca fui de ficar, fiquei; e tu, que nunca foi de abrir a casa, abriu. Nos reconhecemos no meio da chatura do cotidiano e entendemos que estávamos perdidas, nos precisando muito antes de precisar. Acho que um pouco dessa ânsia de futuro se deve ao fato de que qualquer bolo de fim de tarde se torna uma festa contigo. O companheirismo para os cafés, o ombro para as angústias, a barriga para o netflix. Tudo se torna um evento entre quatro (ou nenhuma) paredes, fazendo com que meus textos sejam pouco demais perto da imensidão do nosso nós. A gente não precisa de TV. Nem de carro. A gente faz um refogadinho de legumes e come se rindo, achando o prato mais bem elaborado do lado sul do país. A gente se veste de verdades e segura as mãos por aí, escutando o silêncio, rindo do óbvio, tropeçando dia após dia no acaso de sermos o casal mais improvável da face da terra, e ao mesmo tempo o mais óbvio. Por todas vezes que tu já me disse "calma que a gente dá um jeito"; por todos os dias em que tu acorda querendo me matar e termina o dia sussurrando no meu ouvido; por tudo que passamos juntas, presentes; pela frente fria que a chuva traz às vezes; por nós duas escutando tim maia em silêncio: eu amo você, menina.



 

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