Por que? Porque ainda existe amor nos parques.

Porque no meio da avenida principal da cidade em que eu morava existia uma ponte a ligar dois parques por onde eu gostava de passar para ver os carros de cima. E porque você costumava enrolar a ida para casa depois do trabalho, só para encontrar o sol quase indo embora da sua rua preferida. Porque "existe em algum lugar do mundo uma criança pintando as paredes da casa dos seus pais com um giz de cera amarelo e dentro de quase toda parede há uma barata esperando o verão voltar". E porque ninguém nunca me deu uma resposta melhor que essa sobre o destino das baratas quando faz frio. Porque em algum dia alguém me contou que era possível atravessar o oceano em um barquinho e eu vim cá ver se era verdade. Porque era verdade e você veio comigo. Porque há sempre um maxilar deslocado nos finais de noite e eu ainda não descobri uma metáfora melhor para o amor do que aquela de alguém segurando a flecha apontada para o seu peito e escolhendo não soltar. Porque na esquina da minha nova casa tem um prédio enorme com uma fachada que tem a cor do seu nome e quando chega as quatro da tarde eu corro para o parque mais próximo, para ver a incidência da luz que faz despertar o verde da grama. Porque há uma inocência bonita nas pessoas que ainda frequentam os parques e uma beleza ainda maior nos parques que ainda se deixam ser frequentados apesar de tanto plástico e filtros de cigarros e garrafas e cinza.


Porque foi você que me lembrou do verde dos parques enquanto pedia para que eu falasse e falasse e falasse mais, mas por favor, só agora, não escreva. Porque existe algo de doce na seriedade dos seus olhos e um pouco de seriedade em segurar a sua mão. Porque tudo que é sério, não deixa de ser doce. E isso foi você que me ensinou. Porque meu olhar sério se ocupa demais das páginas escritas no meu caderno vermelho e você sempre gostou das cores mais frias. Porque seus olhos perdem a seriedade para abrir caminho para a inocência quando você tira a roupa e deita ao meu lado e eu volto a ser adolescente quando você sorri mordendo os lábios. Porque quase toda a gente se engana sobre o calor das cores, mas ontem perdi meus olhos de novo no abecedário infinito que existe na ponta dos meus dedos. E porque você se perdeu nas ruas de uma cidade distante. Mas quando o ponteiro do relógio bateu as quatro horas, eu lembrei da luz que incide no seu parque preferido e você se lembrou que eu contei que o vermelho é uma cor fria. Porque é doce e é luz incidindo em cores frias e quando o relógio marca as quatro da tarde eu encontro você no seu parque preferido para ver o dia acabar em vermelho. E meu amor, eu poderia passar minha vida inteira com as mãos nos seus bolsos. E só hoje, poderia não desviar o olhar para anotar a frase que veio beijar a ponta da minha caneta. Porque quando encontro você no seu parque preferido e o dia se acaba em vermelho, essa cor é só nossa.




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