Você e mais quatro

uma vez me disseram que não passamos duas vezes pelo mesmo rio

e aquilo ficou na minha cabeça, grudado

armado

como se tivessem me ensinado

a chave da vida comum

no entanto, restou encampado

guardado

o segredo amarrado

de que não somos somente um

somos o composto

de um

mais

um

buscando incessantemente 

não sermos

comuns

porque ensinam lá atrás

que há completude

na juventude

na vida a dois

- não no agora -

sempre no depois

trabalho, escola

corre, corre

nunca chega

"ao menos tem pão na mesa"

e deixamos o agora pra depois

e nos acostumamos

dormimos e acordamos

no automático do viver

mas

verdade mesmo

é a unicidade dos anos

a cumplicidade dos planos

a unidade de ambos 

que amarram, acordam, aceitam

que relação

é construção

- mas a chama vem desde a fundição

que arde

acende

transcende

e assegura

que a vida futura

começa na espera paciente

de que 

apesar do agora ausente

não se aceita menos do que a certeza

que 

o pão na mesa vira assessório

do carro alegórico

que é o viver a dois

já no agora

não mais no depois

e aí entra você

que me vê

e crê

como ninguém mais o faz

esperando, clareando, desanuviando

a espera ensinada

de que por mais que seja longa a estrada

se tem você

eu espero até mais



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