Seu sorriso é o que eu preciso e quanto ao resto eu juro: tanto faz




Arrumei a mochila e peguei a estrada, sem sequer olhar para trás. Era cedo, ainda, e eu permanecia estarrecida de saudades. Encontrei alguns poucos amigos perdidos na estrada, a alguns ofereci carona, a outros apenas acenei. Dos poucos que ficaram, conto nos dedos os que gostaram da viagem, e ainda querem conhecer outros lugares inóspitos e longínquos junto com minha rebeldia. Fez-se hora, e o relógio pesou no pequeno prego onde eu o havia colocado. Cheguei tarde, mas fui recebida com um sorriso de ponta à ponta. Ela estava parada na porta, receosa, mas acesa de vontade de arrumar as malas e navegar no mar que se prostrava à sua frente. Aos poucos, fomos enchendo o porta-malas com bagagem, e malas pequenas, médias e grandes, conseguimos colocar a vida toda naquele carro. Perdi as contas da quilometragem que foi feita, mas passava dos cinco dígitos e agora não mais queríamos voltar para casa, pois a casa tornou-se a viagem. Dormimos pouco, sonhamos muito e revezamos o volante. Em algumas curvas, perdemos o controle, em algumas serras perdemos a tração, mas continuamos indo, inabaláveis, inalcançáveis. Não havia espaço para a dor: Onde começava a tocar Caetano, ela punha Mutantes, e emocionávamos com o sotaque do Arnaldo sendo o menino da Rita. Debatíamos Chico e analisávamos Baby Consuelo: éramos ápice e tangente, nos esgueirando à beira de um abismo de amor. O sol no rosto, nos lembrava dos dias de sol que passamos na Guarita, bem como as tantas vezes que eu havia prometido levá-la nas tais oito cachoeiras, e enquanto queimávamos o rosto, ríamos desengonçadas das promessas que havíamos nos feito e acabaram evaporando com o vento. Mal conseguia prestar atenção na paisagem, já que teu piercing refletia na luz, e eu não conseguia tirar os olhos de você. Era como se minha viagem transpassasse por tuas cores, por teus sabores e as curvas da estrada nada fossem perto das curvas do teu corpo. Paramos no acostamento incontáveis vezes, afim de sucumbirmos ao desejo profano de nossos suores. Desapareci de mim, quando encontrei o meu melhor em você. Entre as notas do meu violão e teus batuques no console do carro, fizemos sinfonia para levarmos adiante o plano de explorarmos as nossas estradas. Haviam lugares tão estranhos dentro de mim, que me obriguei a te levar para conhecer comigo. Entrei em alguns poços que guarneciam teus olhos, e decidimos, juntas, enchermos os tais de areia, plantando um jardim que, impressionantemente, floresceu ainda naquela primavera.

Você é a calma das minhas águas. O para-raios das minhas tempestades. A vida da minha vida. 5.


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