12 Outra vez



(...) enquanto os sinos giravam eu passava a mão por sobre os escritos. Eram mágicos, diziam os entendidos. Eram puros, diziam os crentes. Eram linhas diretas com Deus, através do vento. Eu não tinha muita ideia do que pedir ou do que fazer naquele momento. Somente encostava a palma da mão, na esperança de sentir as vibrações emanadas por aquelas linhas. Pensava sobre a fé, a sintonia entre os mundos. Queria desacreditar que estávamos todos errados, correndo em direção a um nada utópico, por dinheiro. Precisava encontrar, ali, algum sentido pra toda essa selvageria desenfreada do dia a dia. Essa coisa que faz a gente tropeçar nos ponteiros do relógio, sempre em busca de mais e mais tempo, afim de termos: tempo. Imersa no meu mundo, percebi que logo atrás vinha você. Eu observava, de canto de olho, o quanto você estava encantada com todas aquelas cores. Tão concentrada quanto eu. Tão em paz quanto eu. Sempre que eu olhava, você sorria. Ficamos em silêncio, dando a volta naquela sala e tenho certeza que você estava tão imersa quanto eu. Naturalmente, você encostou a mão na minha cintura; como quem pede para ser guiada, como quem acompanha o mesmo caminho, trilha os mesmos passos. Ali, eu senti a força que sino algum podia emanar. A força mais poderosa do universo. Senti seu coração precisando do meu, através do seu toque na minha pele. A fé que tantos falam, mas poucos sentem. A sensação que todos almejam, de que as coisas podem ser diferentes. Hoje. Já. De que somos capazes de tudo. Eu senti cada poro do meu corpo se abrir em um calafrio. Era a energia da nossa sintonia percorrendo meu corpo. Nossa simbiose. Eram nossas histórias mais uma vez se entrelaçando. Eu, agora mulher, me reapaixonando por cada centímetro de você. E então eu pedi. Pedi baixinho para que o nosso toque permaneça tão intangível quanto o nosso encontro no inverno de 2014. Pedi que nossas mãos sempre se alcançassem, não só para levantarmos, mas para caminharmos juntas. Que você me olhasse com a mesma ternura todas as tardes e continuasse alimentando minhas manhas, manias e manhãs. Que a gente sente na sombra, sem palavras, olhando o mesmo horizonte do sorriso de melancia. Eu pedi para que você nunca esqueça de enxergar nossos filhos. Que as nossas vozes ecoem por entre os anos, e que nosso futuro seja bordado de cores. Eu sussurrei, para o meu Deus - e seja lá o que ele for, que o reflexo do meu sorriso no seu olho permanecesse, como a lembrança da nossa tarde de verão. E então eu te amei.

Comentários

Postagens mais visitadas