E quando morrer de saudades?

Ganhei uma cama nova esses tempos.
Onde já se viu, no alto dos meus vinte e poucos anos, com um coração e uma cabeça que pouco cabem no corpo, dormir em uma cama de solteiro?
Não dá.
Passava os finais de semana espichada, alongada, confortavelmente disposta naquela cama king size de lençóis brancos e voltava para casa no domingo desejando uma cama gigante daquelas, para mim.
Ganhei a tal cama nova plus queen king size.
Ela chegou de manhã, já eram 9h.
Enchi os olhos ao ver que meu quarto era pequeno pra ela.
Agora, meu quarto se resume em violão, cama e estantes de livros. Pra que mais?
Me estiquei depois do almoço, rolei durante a tarde. Tinha espaço para mim, para o coração e para mais cinco ou seis travesseiros.
Tinha espaço para a minha gata, curiosa, que sempre estreia as coisas antes de mim.
Tinha espaço para o notebook, tinha espaço para o violão.
Era de "molas ensacadas". Me peguei pensando como se chamava a pessoa que, na fábrica, ensacava elas, uma por uma, e dispunha organizadamente dentro do colchão.
Será que ela tinha um colchão de molas ensacadas também?
Pulei na cama. Me joguei. Rolei mais um pouco.
Olhei no relógio e ainda eram 18h.
Fiz minha janta. Jantei nela. Assisti dois ou três episódios e uma série qualquer.
Já eram 22h.
Li algumas páginas daquele livro de capa azul que ganhou o Pulitzer esses dias. É um bom livro, de fato. Mas, para mim, Elizabeth Bishop é a eterna poetiza do Pulitzer.
Lembrei da história dela e da Lota. 
Comecei a me perguntar se o Aterro do Flamengo já estava totalmente construído. Se ele havia seguido o projeto. 
Divaguei sobre a política brasileira sozinha, já no escuro.
Levantei, servi um doce. 
Voltei para comer na cama.
Assisti mais dois ou três episódios de outra série.
Era sobre presidiários, mas era super engraçada.
Olhei pro lado pra ver se você estava rindo também.
Já eram 5h.
Cadê você?

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