Amar não é simples.

Amar é simples, dizem. Mas não é bem assim na prática. Amar pode doer pacas, machucar repetidamente as esperanças e jogar as energias por terra, ainda mais quando não se concorda com a expectativa de "felizes para sempre". Tem gente que só vive o agora. Gente que só vive o amanhã. Quem já não encheu a boca pra falar que se fosse amor verdadeiro jamais acabaria? A vida se encarrega de mostrar que mais de uma vez estaremos redondamente errados. Amor verdadeiro também acaba. Amor que "é pra ser" também acaba. Basta ser mal manuseado, desrespeitado, ultrajado em sua simplicidade, sucessivamente sacolejado, ignorado em sua imensa fragilidade. Amor nasce para ser mantido em sua essência, sem ser apedrejado de silêncios ou perguntas. Amar não é simples, o amor é que é. O que a gente faz dele é que desenrola o caminho todo para o pra sempre. Ganhar no jogo de encaixar duas vidas, duas existências diferentes, duas pessoas com crenças e histórias, traumas, medos, vergonhas, valores e, principalmente, expectativas em escalas desiguais é a sorte dos dados do destino. E é justamente na hora do clique pro encaixe perfeito que a porca torce o rabo e a receita da paixão empelota. Porque só amar nem sempre é suficiente. Os sopros da paixão é que levam os bons ventos pra relação. Pequenos sopros. A admiração, o orgulho, o mistério do outro é que temperam o gostar tão necessário na monotonia das relações atuais. Postar foto no instagram não compensa uma relação de infantilidades. A conversa a dois (e eu digo a dois, não a quatro no seu grupo de amigos) resolve 99% dos problemas, afirmam especialistas. Claro que só de pensar na trabalheira que dá aparar as arestas, corrigir rumos, colocar panos quentes - essa dedicação toda, por vezes diária - dá vontade de deixar a cicatrização de lado e fingir que toda paixão diverte. Que textão em facebook compensa a falta de amor. Mas, não. Quando é amor, o buraco é bem mais embaixo. É preciso uma fé tremenda no outro pra engolir o orgulho e pedir desculpas quando a culpa não foi nem sua. É preciso uma crença absoluta no amor do outro para ter a paciência de esperar o timming do outro pra vida. A partir daí as músicas de amor não são mais suficientes de sentido. O tal sertanejo universitário que fala do sorriso não chega nem perto das tardes de pôr-do-sol. Os textos bonitos só complementam e, sim, as palavras começam a faltar. Os presentes já não saciam. A vontade de estar junto se torna maior do que qualquer grande planejamento. A viagem mirabolante é deixada de lado para passar o dia assistindo netflix (e vice-versa). Esse pensamento racional sobre o amor, de que um se esforça ao máximo pelo bem do outro, poupa a gente de conviver com muita gente que não é saudável. Poupa a gente de se despedaçar em busca de algo que nunca, de fato, conseguiremos alcançar. Amar surpreende o tempo todo. Não tem receita certa em site de relacionamento algum. Já o amor, ah, esse tem uma fórmula simples: ajustar os ponteiros é sempre o passo inicial, depois é só puxar o capacho de boas-vindas. 

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