O amor é simples ou amar não é simples pt. II

Já escrevi sobre o quanto complicado amar pode ser. Já me referi à simplicidade que circunda a essência do amor. Me peguei pensando, pela manhã, na tal simplicidade e percebi que a minha maior felicidade é o teu sorriso pela manhã, ainda de olhos fechados. No pãozinho torrado na chapa com manteiga e o bolinho feito na caneca que tu me deu de presente para meus cafés. Não vestes pijamas, mas as roupas folgadas e gastas são vestidos de gala na festa que você faz no meu coração. É fim do mês, a grana tá curta, só que (olha que sorte) no armário tem uma massinha e eu invento um molho com tomates (que tu já está enjoada de comer). Sem pompa, sem requinte, mas recheado de amor. Tem um tanto de coisas lá onde dobra a esquina do coração, e a gente não compra com dinheiro nenhum no mundo. A felicidade, no fim, mora na falta. De pudor, de exagero, de mimimi, na falta de controle sobre o outro. O quarto está uma baderna, mas enquanto eu tomo banho você arruma a cama em segundos só pra gente deitar de novo. Se eu me irrito logo cedo, pela manhã, você acha umas cobertas e a gente deita na sala pra assistir tv com a família toda, pra evitar que eu implique com alguma coisa. Hoje foi dia de MPB, mas amanhã vai ser de sertanejo, que é para agradar aos nossos dois sorrisos. Às vezes a gente está de péssimo humor, e esbraveja a ira totalmente sem necessidade. Mas, é quando a gente respira bem fundo, abre as janelas e as cortinas, que o tempo passa e o furacão junto com ele. A minha felicidade também mora na renúncia. Do meu ego, da certeza, da superioridade. Não preciso competir contigo. Parei de competir comigo. No jogo de gostar a gente acaba dando todas as cartas antes do fim, e essa graça de o jogo continuar só com os dois jogadores é o segredo que nos faz aprender a esperar. A ter paciência. A compreender o outro acima de si. Li certa vez que os casais felizes não são ricos financeiramente, não fazem viagens exuberantes, tampouco frequentam as maiores baladas. Eles são felizes exatamente com aquilo que tem. Seja só com ovo e tomate ou uma trip pra praia num domingo de manhã. Como eu já disse, não existe uma fórmula secreta. Existem duas pessoas que se amam, com disposição de sobra para fazer dar certo e que transformam qualquer cilada em um programa super divertido. O segredo dos casais felizes é justamente a paciência, a leveza, a tranquilidade, e acima de tudo, a vontade. A vontade, eu diria, é o ingrediente principal para a durabilidade. Quem não quer estar junto, simplesmente não está. A vontade de fazer dar certo, de ver o outro feliz, é superior a qualquer outra vontade. A minha felicidade mora no colo durante o filme, no abraço depois de um dia agitado de trabalho, na mensagem de bom dia, naquela segunda-feira na cama, no amor simples e puro como deve ser, sem perguntas demais, exigências demais, perfeição demais. De que adianta todo o dinheiro do mundo se na hora da intimidade surge o receio bobo do mau hálito, do cabelo desgrenhado, da depilação atrasada? Bom é transar de manhã ou depois de um dia de trabalho conturbado, sem marcar hora, se deixar levar pela vontade. Amor bom é simples Mas, repito, amar não é. Desde reconhecer um erro, a não deixar qualquer bobagem estragar um clima agradável, saber lidar com alegria e com os resquícios de rotina do tempo. Quando se ama, se aprende a ponderar, pontuar sem necessariamente criticar, ter respeito na hora de falar, pois se sabe que uma frase dita sem cuidado inicia um incêndio. Aliás, o desejo é a chama que incandesce ainda que se tenha consumido todo o combustível. Felicidade é ser para o outro a paz que ele tanto precisa. Na verdade, chego a conclusão de que tudo gira em torno do desapego. Livrar-se dos nossos preconceitos, das nossas ideias muitas vezes surreais, da necessidade de estar sempre certo, por cima e de ser absolutamente inflexível. Amar é ver a vida com os olhos mais humildes. Reconhecer que existem outras razões além das nossas e abraçar estar diversidade como se fosse a única no mundo (sim, não é fácil.). Felicidade é descer alguns degraus da escada para conseguir mirar um sonho mais alto, junto. A questão é abandonar tudo aquilo que você achava que sabia sobre o amor e se permitir aprender ao lado de alguém sensacional. Fórmulas prontas de relacionamentos anteriores são coquetéis molotov explodindo aos poucos nas paredes da relação. Se fosse fácil não existiriam tanto desencontros ao longo da travessia. Se fosse fácil, as pessoas não desistiriam. Quando for amor, será óbvio e clichê. O resto, se desenrola como a lã na agulha, porque amar, na maior parte do tempo, é não saber mesmo. No final, tudo não passa de uma dança deliciosa onde se um erra o passo, o outro mantém o equilíbrio. Ora inverno, ora verão, ora tempestade. Em tempos em que se escolhem amores em um catálogo à palma da mão, carinhar o ninho é o maior gesto de coragem que podemos ter. Afinal, com a cabeça no travesseiro nós somos julgados pela coragem de nossos corações. Simples assim. É só não desistir.



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