A pinta



Não sei dizer ao certo se ela é na perna ou na barriga, a localização é entre as duas partes e acredito que aquele espaço nem tenha nome senão aqueles científicos-anatômicos-biológicos. Pois bem, o lugar da pinta vai ser o nome. Eu não a tinha percebido, e fui a conhecer hoje, em meio aos cabelos emaranhados dessa tarde fria, enquanto abraçava o travesseiro dele com um cheiro de limpo e novo -que não sei bem explicar se era dele ou não - mas ele anda sempre com cheiro de roupa limpa, sabonete novo, cheiro bom assim como o travesseiro dele . Ela não é muito grande, tem cerca de 1 cm de diâmetro e chama mais atenção do que qualquer coisa que esteja por perto (nada dessas pintas cabeludas, que mais parecem uma colônia de micróbios), mas ela de certa forma desviava meu foco e me fazia crer que eu sempre quis que aquela pinta estivesse ali.
Ele tem várias pintas, por cada parte do corpo, mas aquela era uma pinta especial: Marcou a imersão no meu mundo, de uma forma outrora desconhecida. Por golpe do destino, da genética ou do sol, tenho uma pinta no mesmo lugar, e assim como tantas outras vezes, me reconheço nele, nos carinhos dele e nas explicações pras possíveis aplicações de pintas na pele branca como o papel. Papel rabiscado, aliás, o que eu adoro. E hoje, mais que especialmente, o dia foi marcado por tons pastéis, iluminado pela luz dos olhos dele e essas tais pintas, que renderam uma enciclopédia em cima da pele macia. Ele me faz um bem enorme! Com essas pintas, rabiscos e histórias pra me contar. Abaixo a hipocrisia e grito aos quatro ventos que, realmente, não é necessário nos escondermos, mas o nosso mundo nos puxa pra dentro dos nossos próprios corações, esquecendo completamente o que habita na superfície (inclusive pintas).

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