Sobre pessoas reais e sentimentos reais

(...) Sempre gostei de pessoas reais, de carne e osso. Pessoas que são abraços, pessoas que são histórias. Nada dessa coisa de pedestal, de imortalizar o humano, o reto, o oco. Todo muito tem um pouco a acrescentar a alguém, todo mundo tem um buraco fundo que desconhece o fim. Todo mundo tem medo de não ser ninguém. Todo ser humano visa conhecer alguém, criar laços e relações. Falo de pessoas de carne e osso quando me refiro a seres, não contabilizando a distância ou questionando a existência no meio real ou virtual. Já vi por aí gente virtual mais presente do que os reais (de carne e osso). Mas, nesse entrave entre barreiras do real, nasci sentimentaloide, apegada às emoções intocáveis que aparecem dentro do abraço e das histórias dos reais, imortalizando o humano, o reto, o oco, em palavras bonitas para inglês ver, enquanto humanamente eu amo o simples. Enquanto gosto da carne, do sangue, admiro a borboleta metaforizada no estômago. Escrevo sobre ela. Adulo suas cores, seus mistérios. Mas também aprendi a amar a realidade bruta, a poesia implícita. Não que eu desmereça os contos de Lispector ou de Caio Fernando... Cresci dentro do tubo de emoções que cada pequena frase deles carrega, mas, com o passar do tempo, percebi que escrever é não-viver. É projetar. É o paradoxo infindo da imortalização do sentimento dentro da palavra, esquecendo que o autor-poeta, por si só, é só (e só). Pois, entendia de medos, frustrações e expectativas, mas, "despedestalizando" o humano, a carne, tudo se torna completo, tudo se torna certeza. É a descoberta do amor real. É o erro que passa a ser amado. É o mistério descoberto que encanta. É a dor compartilhada que cura. É o amor real, sem pedestal, que infinda - e aí sim - imortaliza. Então, se me concederem um último pedido, rogo: Que o real imortalize, que as palavras assegurem a verdade, o completo, e não uma expectativa de amor carregada da dor da frustração, porque esse é o absoluto oposto do amor. Que as palavras sejam, por fim, amor.

(solta da mão do medo, eu sei bem o que eu quero.)

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