Poucas vezes eu chorei de saudade. Mas hoje eu chorei. Ensopei o travesseiro com lágrimas que tinham o seu nome. Mordi, na esperança de que toda aquela força alcançasse você. Abafei os gemidos, imaginando que se aqueles gritos chegassem aos seus ouvidos, você choraria baixinho comigo. Lembro das poucas vezes que você chorou baixinho no meu colo (e eu no seu). Nosso coração era um só. Ali, ele era uma migalha. Éramos chuva, o coração, gota. Mas, especialmente hoje, chorei dor de saudade. Sem lamento, só lembrança. Não era essa saudade diária que caminha comigo e me faz te escrever poesias. Ou aquele aperto pra te ver mais dez minutinhos. Era saudade do cheiro que fica no travesseiro quando você levanta pra ir no banheiro, rapidinho, de manhã. Era saudade do desenho do formato do corpo no sofá, quando a gente já nem sabe mais quem é quem. Era saudade da luz da tv iluminando tua orelha, de lado, virada pra mim. Era saudade do silêncio da casa quando a gente resolvia voltar a ser criança, nos escondendo uma da outra. Do gosto do beijo dado sem pudor nenhum, depois do almoço, sem escovar os dentes. Saudade do meu olho irritado por causa do teu cabelo cheio de espuma embaixo do chuveiro, e das tuas costas alinhadas com meu umbigo. Saudade de poder não planejar e esperar as coisas acontecerem mansinho. Saudade de analisar os espaços em branco na sua parede pensando que tipo de quadro ficaria melhor ali. Saudade do susto que arrancava um sorriso de canto de boca quando a gente confundia o barulho da porta do banheiro com a do quarto e de como meu desespero te fazia rir. Saudade das covinhas dos olhos escondidas pelos cabelos quando eu acordava mais cedo e te via abrir os olhos, devagar. Do dia em que tu já estava acordada antes de mim porque havíamos planejado qualquer trip e tua ansiedade te fez acordar sem despertador. Deu saudade da tua manha, de manhã cedo e de te buscar no trabalho do fim de tarde. Sinto saudade de coisas que me arrancam suspiros por serem um futuro dentro do nosso presente, de tempo tão escasso. É o buquê que está no ar, é a chave de casa que caiu no chão quando você remexia as coisas da bolsa. É a cama grande, pra que tu bufe e chute bastante. Pra que a gente transe, de manhã. Pra que a gente durma depois do almoço e viva a história que a saudade surrupia. É saudade de acordar e lembrar que eu pertenço a alguém. É saudade de ouvir eu te amo no pé do ouvido. é saudade da gente. Hoje, de novo, eu chorei baixinho de saudade. Mas foi abraçada em você.

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