Redundante ou Você não é fácil e eu só complico

Ela arrumou a cama com um sob lençol branco. As cobertas eram rosa e cinza, respectivamente, com um emaranhado de lã quentinha que fazia ela reclamar toda vez que tocava a pele - Dá um arrepio, não dá? Eu divagava sobre ela durante todo o espaço de tempo em que tomava banho. Eu tinha o cuidado de achar um pedacinho de papel perdido, para rabiscar algumas anotações sobre aquele final de semana. No rádio tocava um som que a gente gostava pra caramba, e percebi que, de fato, a gente fica mordida, não fica? Nossas brigas são estratosféricas. Você não é nada fácil, e eu complico um pouco além do necessário. Mas, você é sagitário e eu libra. Já é outono de outro ano e eu ainda lembro de quando você encrencava com a conjugação dos verbos, pesquisava meu signo e me dizia pra olhar a lua. Eu, afobada, descobri em você um amor de cerca branca, antes mesmo de ser. Impossivel esquecer nossa premissa: Já era amor, antes de ser. No caos de livros, papéis e obrigações, é como se o nosso entrelaçar de cabelos enchesse nosso amor com uma paz azul, de ensurdecer os ouvidos (porque quando eu ouço a tua voz, o resto do mundo fica mudo). Azul de horizonte naquele entardecer em dia frio, como hoje, que a gente não consegue saber exato que horas são. Me pego observando aquele morro, mais de uma vez, na esperança de que -de alguma maneira não tangível- uma espaçonave pouse ali e traga você. Essas crônicas tem trazido algumas vírgulas de solidão, e eu sei que não posso depositar o peso do mundo dentro do teu ouvido. É que eu te faço de ombro amigo, peito abrigo, amor eterno, e em cada pequena frase que eu deixo escapar nesses textos mal construídos, tem milhares de letras do teu nome. É a ambiguidade de encontrar, na mesma pessoa, o Yin e o Yang. É a ambiguidade de encontrar o suficiente em uma pessoa só. Sempre fiz questão de te deixar claro que você guia meu centro pra dentro de mim mesma, e me faz perceber que, escutando, eu diminuo o ritmo do tempo pela metade. É incrível a capacidade que você tem de fazer eu me reapaixonar, ainda que nas brigas. Sem nos prometermos nada, deixamos de fugir dos monstros de cada uma de nós e caminhamos juntas na direção daquilo que acreditamos. Algumas vezes preciso pedir desculpas pela displicência. Meu coração se sente afagado com os telefonemas, com os pedidos de calma. Minha alma se sente segura com teu sorriso nas nossas conversas de colchão. Acho uma graça de quando você relembra todas as datas (mas esquece dos presentes), sorri de canto e diz que o mais importante desses anos foi ter o nosso "nós" de mãos dadas. É claro! Mas, ainda assim, a gente fica mordida, não fica? Claro, não posso esquecer que toda essa ascensão à divindade provém do teu qi maior que o meu. Repito: eu não sou fácil. Eu custo desejar alguma coisa, pedir com fé na prece que algo venha a acontecer pois sabe-se-lá-por-que somente uma força divina seria capaz de realizar. Pois me peguei remendando uma ave maria entre um pedido de que houvesse tempo para renovar o amor, assim como a gente faz com a luz apagada e a janela entreaberta. Não quero voltar para o começo, não quero desaprender pra aprender de novo. Eu já não conjugo mais o "tu" e não leio o signo. Você também não me pede pra olhar a lua. A gente continua sonhando o mesmo sonho? Os tempos andam difíceis pros sonhadores, já diria o poeta. Mas, o mesmo poeta disse que sonho, sonhado junto, vira realidade. A essas alturas você já está secando o cabelo no espelho do banheiro, porque a gente discutiu sobre sabe-se lá o quê. Já construo a parte em que você entra, só de toalha, a gente se abraça de corpo quente e eu me desculpo, mais uma vez, por complicar. Frise-se: Você não é fácil. Meu orgulho se retorce em cacos tentando acreditar no que teu olho diz. Partindo desse pressuposto, percebi, virando a página do livro, que não foi a toa que minha história entrelaçou com a tua. Peça em perfeita simetria não encaixa. 

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