find myself outhere

Eu descobri com você que namorar não significa se privar, na verdade significa o oposto. Aprendi que ter um bom relacionamento é poder ser assim, do jeitinho que eu sou e aceitar seu jeito de ser. Afinal, tudo acabava encaixando quando eu te dava colo e as dores sumiam.  Depois de você, aprendi a amar os nossos dias de preguiça no sofá, de pijama, de roupa, sem roupa, de meia ou só de lingerie, porque antes eu não conhecia nada disso. Aprendi a adorar maratonas de Netflix, pipoca doce e cobertor, porque sua companhia tornava qualquer coisa um excelente programa. Com você aprendi que amor vai muito além das aparências. Aprendi que podia escolher ficar linda, com depilação em dia e maquiagem feita, com cinco ou seis quilos a menos, mas que podia decidir não me depilar e sair de cara lavada que tudo bem, a gente comeria uma parmeggiana ou um xis no carro mesmo, e depois se beijava de boca suja. Tudo bem. Você também podia escolher ficar com aquele camisetão que eu te dei ou de vestido preto curto, a gente podia sair de casa de pijama só pra dar uma volta, aquela volta que no último dia você não quis dar porque seu amor de última semana poderia estar no -até então- nosso lago. O amor só é verdadeiro quando a gente se encanta com a essência do outro, e não com a aparência do outro. Eu te mostrei uma profundidade em mim que nem eu conhecia. Eu conheci um eu em você que acho que você não conhecia também. Sabe que, depois de todo esse tempo, ouvir meu coração tem sido libertador. Enquanto pelos ouvidos entram palavras de ódio, o coração me descansa com o nosso balançar de rede no Canadá. Nada daquilo podia ser mentira. Nada foi mentira. Acontece que o seu eu depois de mim já não é mais o que eu conheci. O meu eu de agora pode ficar em casa enquanto meu-futuro-outro-alguém vai sair com amigos. Afinal, você já tem outro alguém, não é? A vida segue. O alguém que amanhece com você como eu não fazia. O alguém que conversa por madrugadas, como você não fazia comigo. O alguém que não quer entrar dentro de você e tirar o melhor. Só quer entrar dentro de você. Talvez por isso eu não tenha sido suficiente pra você. Eu sempre quis que você fosse melhor a cada dia. Eu puxava a corda pra que você subisse, como você fazia comigo. A gente já era casamento antes de ser. Talvez por isso eu sucumbisse à ansiedade de um futuro próspero, para que eu pudesse te dar o que você jamais conheceu também. Mas meu novo eu também é livre para sair com quem quiser, sempre que quiser. Não vão ser os estudos, os pais, os cansaços ou as negativas de alguém que vão fazer com que eu deixe de estar com novas pessoas. Aliás, preciso de novas pessoas, porque tudo ainda tem você. Será que eu vou virar aquele ex-amor de piada como você fazia com todas as outras? Eu não acho isso possível porque aprendi que éramos uma só, e que isso você nunca foi com ninguém. Aprendi também que precisávamos ser duas, apesar de ser nossa parte mais bonita, né? Eu entendo agora o que era confiança e agradeço por você me mostrar que eu posso ser boa sozinha também, mas que era invencível contigo. De repente eu te via em casa cedo, entrando na rotina saudável e feliz de planejarmos um futuro e batalharmos por isso, e sorria de canto de boca, enquanto pensava no que fazer pra gente jantar. As coisas simples do dia a dia se tornaram as mais especiais pra mim. Eram as sextas que me faziam ter gás para a semana toda. Não sei em qual parte da curva os silêncios entraram entre a gente e fizeram com que você dormisse até a hora de ir trabalhar pra não falar comigo. Fizeram com que você chegasse em casa do trabalho e dormisse para evitar o inevitável. Não sei em qual parte da história a toalha na frente do seu corpo entrou. Não sei também quando foi que você parou de me procurar na cama. Não sei o quanto fui ausente para que uma pessoa tão menor entrasse tão rápido e mudasse tanto você. Talvez tenha sido entre você me falar que meu beijo não era tão bom ou eu engordar uns quilos a mais e não me achar suficiente pra você. Mas a gente nunca ligava pra isso, né? O meu eu de agora realmente não entende como foi que tudo se perdeu. Mas agradeço a você, também, por entender que o amanhã é inesperado, que fazer planos é admirável. Que ir pra Lisboa ou Irlanda seria a mesma coisa que ir pra Caxias se estivéssemos juntas, mesmo que você nunca tenha me dado a certeza de que queria estar onde eu estivesse. A gente nunca sabe quando a fagulha vai incendiar o quarto todo ou quando uma noite estrelada vai ser sua oportunidade pra deitar com outro alguém pra esquecer o nosso eu. Quando o silêncio vai fazer com que o amor afaste ao invés de unir. Aliás, o meu eu de agora sabe que falar é o melhor a se fazer em todas as circunstâncias, assim como sabe que a verdade sempre permanece. A minha verdade permanece. E a sua? Um brinde às minhas falhas. Um brinde às tuas. Um brinde às nossas. O meu eu de agora ainda sente falta do esfria-esquenta do teu cobertor ao longo desses anos, mas talvez essa estrada tenha me ajudado a ser mais tranquila comigo mesma pra que eu pudesse coexistir com todos os meus erros. Pra que eu pudesse ver você embaixo do pedestal. O meu eu de agora não consegue reconhecer o você da dor. Essa capa não lhe cai nem um pouco bem e todos os domingos preguiçosos são esquecidos quando percebo que já existe uma colher pra você na foto dela comendo brigadeiro, logo depois de passar a tarde abraçada comigo. Aliás, redes sociais acabaram pra mim também. Prefiro imergir em lembranças de quem eu acho que conheço do que me deparar com uma parede desconhecida. Meu número continua o mesmo, a minha casa também. Doer, dói. E talvez continue doendo por mais longos meses ou anos. Talvez a gente nunca mais se cruze. Talvez o meu eu depois de você tenha percebido que eu não mereço não dormir, que eu não mereço esperar você me querer de novo enquanto beija outras bocas. Talvez o seu eu depois de mim tenha percebido que o que realmente importa é ser feliz no hoje, é não fazer planos. É não falar de amor. É esquecer. É não pensar. A única certeza  do meu eu de agora é que tudo que foi bonito demais para ser desfeito por palavras ou atitudes impensadas, suas ou minhas. A certeza é que não deu errado, nem por um segundo. Por isso todas essas dúvidas sem respostas. Por isso tentamos acreditar em meias-verdades para ligar com a dor. A gente deu certo pelo tempo suficiente pra ser lindo. Pra ser pra sempre. Por isso, enquanto você se deixa amargar se perdendo entre cervejas e amores de uma semana, a nossa foto polaroid vai apagando com o tempo e eu vou tentando não cometer os erros que cometi com você. Uma vez alguém me disse que onde existe amor, não existe ego. Que é mais bonito ser boba do que ter razão. Acho até que Alceu escreveu aquela música - que você tanto gosta - que fala sobre um coração bobo pensando exatamente nisso:"meu coração tá batendo como quem diz não tem jeito". O coração da gente é bobo demais e só acredita em olho e abraço. Meus olhos veem como você se mostra, mas teu abraço conforta. E agora? A gente se apega às lembranças boas (que a memória insiste em trazer) e vive como se já não pertencesse mais. 


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