my person nesse vinte e um de ausência

a sensação foi como da primeira vez que pulei na piscina e não podia respirar por não saber. quando eu te vi de longe foi como se o ar sumisse da Terra. achei que ia sufocar. demorei eternos minutos pra entender que aquele soco no peito era amor. tu não veio devagar, eu tive que te engolir inteira. foi a melhor coisa que me aconteceu. o começo do amor é como nascer: dói. o bebê abre o olho e vê a vida inteira pela frente e não entende nada. ele chora, e eu te olhei (e te vi) e chorei, te amei doendo o resto do tempo e fui aprendendo a caminhar pelo teu amor. dei meus primeiros passos, falei as minhas primeiras frases confusas, e eu, que nunca entendi o amor, fui ajudada a andar porque tu me ouviu com carinho, cuidou do soco no peito que teu amor me deu e que nunca sarou. tenho até hoje uma marca daquele dia, quando eu te vi e te quis e tu não me acredita. mesmo tanto tempo depois, marca de nascença do amor que tava de blusa branca, calça azul e aliança na mão. eu já te amei, lá, por tudo que se fez crer e florescer com aquele soco no peito.
fizemos tanta história que virou poesia. quantas páginas já podemos contar no livro do nosso amor? o mais bonito é o amor não contado, da cabaninha, do ombro atento, da ânsia do pra sempre. tem vezes que a melhor parte da vida é o girar. o eterno ciclo de repetições, onde sempre voltamos pro mesmo lugar, quando se sabe o seu lugar no mundo todo. e, olha: a gente encontrou o nosso dentro do olho uma da outra. eu não duvido nem por um segundo do amor. tem vezes que esse girar também é a pior parte: cair do carrossel pra que o joelho doa. com o amor nunca foi diferente. ele vive uma vida inteira e cabe no espaço tempo do agora. os silêncios e ausências e saudades e planos e esperas sufocam até o amor mais bonito com coisas não ditas. às vezes, só o que se quer é a paz desse amor falado baixinho, lamentado baixinho, entendido baixinho. só que primeiro o joelho precisa doer. primeiro a floreira cai, espatifa no chão, pra semente poder entrar na terra e crescer. sinto tanto por ser tão profunda assim, feito uma piscina cheia de água que também te afoga. 
e no fim, a sensação foi como da primeira vez que pulei numa piscina e não podia respirar por não saber. tu, meu amor, ainda tem meu coração, só que quando te deixei naquela rua foi como se o ar sumisse da Terra e eu sufoquei. demorei eternos minutos pra entender que aquele nó na garganta era a despedida, e tu não ia voltar. tu não foi devagar, tive que te chorar inteira. A diferença entre o começo e o fim? é que sempre fica alguma coisa pra buscar quando se sabe pra onde voltar.

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