Mudei meu conceito sobre o que tá correto.

A tarde me trouxe um ar de nova aurora. Laranja fosforescente, inundou minha alma da calma almejada há tantos meses. Despreocupei-me com o que havia ao redor: se olhos famintos, que devorassem cada pedaço daquele amor nascituro. Amor prematuro. Amor antes de tudo. Duas piscadelas e diluí meus medos na água daquele lago, que outrora fora dela com outra. Água turva, esverdeada, inundou o passado, afogando-o ali. Fiz-me ausente de argumentos para contestar o quanto essa menina já me pertencia, antes mesmo de a ser afinal. Me vi mudo, observando cada gesto, calculando cada linha da fala, para que de maneira alguma, perdesse o delinear da prosa mansa, ao seu ouvido. Sorria para os raios entrecortantes, que trespassavam por seus cabelos negros, por sua pele quase cuia. A cada nota mal arranjada em meu velho violão, ela buscava uma entonação diferente para me acompanhar o traço, o passo, o laço. Mais dois goles em minha cerveja, já quente, se pôs a reescrever a minha história, dessa vez como princesa, assim como quem reconstrói um ninho, assim como quem oferece abrigo. Não que houvesse tempestade, tampouco precisamos de guarda-chuvas, o que havia era um azul esplendoroso, inconcebivelmente reflexivo aos meus olhos. Um azul claro de um céu sem nuvens. Não sei, afinal, o que me trouxe aos montes verdes daquelas costas-curvas. Se o jeito de andar, de vestir, de falar. Talvez o jeito de me amar. Talvez, enfim, nossas solidões tenham ~combinado~. Nossas solidões tenham se merecido. Talvez tenhamos dançado, e deixado a solidão para mais tarde. As mãos, entrelaçadas, padeceram. No sorriso, o abraço, o laço, o traço, o beijo no queixo, o aparelho, o cabelo, as costas, as marcas, minhas notas erradas no violão. Na estrada, a calma, o anseio, o passeio, o marco, o signo, o passo. Tudo combina, trazendo a insignia do "para sempre" aos pés do céu do parque, que de fato nos testemunha desde já. Por trás dos olhos as preces, as estepes, as curvas, as unhas, o retrato fiel de quando fui alvo fácil da tirania do "pertencer" e percebi que as prosas de Martha faziam todo o sentido, porque eu, à toa, sou tua.

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