Invejo quem pode vê-la. Eu que não posso mais, eu que estou distante, eu que estou separado dela.
Invejo o cobrador do ônibus. Invejo o motorista. Invejo quem tem a chance de conhecê-la.
Invejo quem pode enxergá-la sem taquicardia, sem sobressalto, sem temer a reação.
Invejo seus amigos que podem encontrá-la para um almoço e conversar à toa.
Invejo a família que tem sempre preferência. Invejo os balconistas da farmácia e das lojas, mesmo que só falem crédito ou débito, invejo porque ela dará uma resposta.
Invejo seus colegas de trabalho que podem gritar pelo seu nome com entusiasmo.
Invejo a moça do cafezinho, o moço da limpeza. Eles tem todo o direito de se aproximar - ela é real e acessível.
Invejo desconhecidos com a fortuna de rápidas palavras. Invejo o flanelinha que lhe chama de linda. Invejo o carteiro que se engana de número e pede uma informação.
Invejo quem tem a possibilidade de telefonar ou mandar mensagem. Invejo os esbarrões de seus dias. Qualquer contato, qualquer cumprimento, invejo. 
Eu me invejo na inveja.


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