veja a beleza de sermos o que somos






Divido com você o meu lado mais banal. 
Marginal.
O ordinário dos meus dias ordinários.
Mesmo o que não tem valor aparente, eu parto em dois, e uma parte é sua. 
Te dou os cacos da minha conversa batida também.
Aquela que ninguém aguenta mais ouvir. 
Que pros meus amigos eu já cansei de repetir.
E você pergunta tão gentilmente, ainda que saiba as respostas.
Você sempre varreu tudo tão cuidadosamente. 
Tenho tanta inveja desse seu jeito simples.
De menina crescida que não cansa de me escutar.
Da sua forma de dançar comigo as músicas que já cansamos de ouvir.
De juntar os pedaços como se isso fosse importante.
Como se eu fosse importante, mesmo sem dizer.
Aliás, sem dizer, você diz muita coisa.
Eu nunca me dou toda essa importância.
Mas você me espia. 
E de novo você me espia. 
Por fora e por dentro, dentro onde eu nunca cheguei.
Que lindo seu olhar de espiã, me desconserta inteira. 
E desconsertando você me consertou toda e eu nem percebi.
Trouxe os dias de sol.
A tremedeira nos joelhos.
Foi a sua sutileza, eu sei. 
Hoje eu sei. 
O jeito de falar e se rir.
A forma como me faz insistir.
Os caminhos, ainda que errados, já esquecidos que me trouxeram pra você.
As partes que me transformaram no que eu sou.
O conserto que me fez o que eu sou pra você.
Fazendo o que eu sou, aquilo que sou pra você.
Não são partes que te dou.
Não foram partes que eu te dei.
Você achou.
Te dei meus tudos, nunca os meus nadas.
E de quinquilharia em quinquilharia, você me montou de novo, como um quebra-cabeça finalizado. 
Deve ser isso que se chama amor e isso nunca vai ser clichê.
Tenho tanta pena de quem pensa assim.
Meu clichê não tem nada de temporário, de efêmero.
Fui rocha que o clichê quebrou.
E teria outra maneira de adentrar nesta cabeça dura se não quebrando em cacos?
Depois colando e criando uma paisagem nova. 
Mais verde, mais bonita mesmo.
Bonita porque agora você está lá.
E se você está as coisas são mais lindas.

Não te dei meus pedaços. 
Nem minhas partidas.
Eu quis partir com você. 
Por inteiro. 
E fui.
E fomos.




(Uma pequena intervenção em homenagem ao Pó de Lua que tu me deste)

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