efêmero é o instante ou a vida é só um detalhe





tenho me olhado por dentro. saltando da minha cabeça quente pra dentro das entranhas de mim, sem roupa de mergulho nem asa-delta. talvez eu sofra dessa coisa de mimfobia, junto com o Millôr e sempre tenha preferido me ver de longe. analisar essa intocabilidade de ser o que eu escolhi, ao invés do que eu, de fato, sou. los hermanos demais essa fase tropicália da minha vida. no sol, tarde dessas, exteriorizei toda a alegria de minha pretensão mundana em algumas músicas dos novos baianos enquanto rolava na grama, tomando chimarrão. ali, eu estava mais dentro de mim do que fora, e adivinha? eu estava sozinha. esses dias, na verdade, têm sido dias solitários, de uma introspecção necessária para o andar da carruagem dos vinte de poucos anos. poucos e já tantos. tenho uns amigos bacanas, que me puxam pro mundo vez em quando, entre um ou outro gole de saudade. larguei o emprego de turno integral, pra me dedicar aos livros e à façanha de entrar em mim. a namorada foi pra uma viagem dessas de família, volta tarde (ou pelo menos tarde demais pra me ligar). tenho sido menos afobada. tenho buscado entender, ao invés de criticar. acabei me tornando um estereótipo do tipo que jamais quis ser: more workaholic less sapacult e esses dias calmos têm sido a maresia da minha praia deserta. pensar que eu devorava livros, gastava montantes em grandes discos e saía para correr na chuva. hoje devo ter lido uns três livros diferentes, arranjado umas notas novas no violão e batucado por um tempo. nada de expressivo, nada de construtivo, mas procurei antigos amigos, reconstruí velhas amizades. tenho dado mais atenção aos outros, e com isso, mais atenção a mim. chororô pra lá, gripe de amor pra cá, se dependesse do ânimo, hoje eu só escreveria sobre saudades. e olha que delas tenho tentado me livrar de todas as formas: jogos de azar, músicas novas, armário para lá e cama para cá, o meu quarto todo virou uma confusão desde que você foi pra essa trip animadíssima de veranico. hoje está mais frio que o normal, e agora estou vendo a sua série favorita. terceira temporada, talvez: a temporada da saudade. viu só? tudo encaixa nesse universo contemporâneo da mudança. crise dos trinta ou vinte, saudade ou dor, eu prefiro chamar de "efêmero". pronto: foi, já não é. 

Comentários

Postagens mais visitadas