Uva e vinho.




Eles eram meio uva e vinho. Um precisava da outro para existir, mas sem o devido trabalho, nunca passariam de uva, sem o devido cuidado nunca chegariam a vinho. Não batiam em nada, por outro lado, se completavam como peças de um quebra-cabeça. Eles se amavam, e disso ninguém duvidava. Enquanto um se vestia, a outra já sentia saudade do que acabara de acontecer ali. Não havia mais o que ser dito ou escrito, o silêncio tomava conta do quarto e ela perdia seu chão. Por mais que ele duvidasse, sua vontade estava ali, era inteira, dependia de sua existência para suportar, mas nada falava. Se subterfugiava em linhas mal escritas, dentro de um desespero típico desse inicio de inverno. Tremia. Era medo, disse baixinho, medo do amor terminar de nos dilacerar. Não queria ir embora com a bola que se formara em sua garganta. Onde foram parar todos os momentos felizes? Seria seu fim? Nem cogitava. Anjos de uma asa só precisam ficar juntos pra voar. Não demorou muito tempo. Bastou um lance de olhares para os dois imergirem num mundo só deles, dentro do sorriso dela, ele se encontrava em si. Dentro dos olhos dele, no mar mais profundo ela mergulhava. Nasceram um pro outro, disso nenhum deles sabia. As brigas constantes não faziam mais do que trazer reconciliações inesquecíveis, como a vez em que de tanta saudade, sobraram apenas lençóis. Eles eram assim, não se entendiam, mas tentavam constantemente. Buscavam aperfeiçoar o que de mais belo a vida lhes proporcionara: Amar, com a intensidade de um vulcão. Dormiram mais uma noite separados. Em um bar qualquer, ele escondia as mágoas entre um copo e outro. Ela, dormiu com o celular embaixo do travesseiro, esperando por um sinal. Nada veio. Acordou, tomou um banho e como de praxe foi trabalhar. Ao abrir a porta lá estava ele, e de sua boca só se ouviu: Eu faço o almoço.

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