Eu devo gostar de perder meu tempo com você.

Leio teus textos. Invento histórias e citações para permanecer de protagonista na nossa não-história. Dias desses eu conversava com um amigo muito querido sobre esses devaneios e esse medo no teu olhar. Perguntei-o se o problema então seria eu, se minha ânsia de te querer por perto fez-te recolher os sinais e empunhar a armadura doce que vestes agora. Lembro-me das conversas as sete da manhã, os olhares desnorteados pedindo para encontrar os meus, e agora, desprezo? 

Peco mais um pouco te escrevendo agora, mas teu jeito menino não me deixa outra escolha. Teu caminhar elegante, teu pescoço e tuas mãos: Tua forma de parafrasear cada passo meu. Tua voz, enaltecendo a maturidade que chegou na hora certa para alinhar cada sentido meu. Teu cheiro, que desconheço, fazendo tantas outras sucumbirem por aí. Teus dedos, adornados pela mão de uma criança, me fazendo querer que a minha criança seja a tua também. Tão seguro de si, me olha de rabo de olho e eu disfarço. Minhas palavras aguardam o teu tempo exato para falar, mas teu tempo não chega e eu já não sei o que pensar. Silêncio. 

Sabe que esse meu amigo me explicou o seguinte: Há outras vidas, outros corpos, outros lugares e outros rios para se molhar, mas almas predestinadas se encontram e trespassam a fronteira do possível, a ponte do entendimento. Aí então fui olhar aquele filme onde eles não sabem que já se conheciam, não me recordo o nome exato, mas então se reencontram e a ela escora sua cabeça no ombro dele. Tão eles. Tão deles. Tão... "I don't know you, but I want you all the more for that".

Guarde nossas palavras trocadas de manhã. Nossos olhares trocados a tarde. Nossos silêncios a noite. Nossa vontade de nos vermos, sem explicação ou porquê. Guarde meu anseio de te entender. Guarde a tristeza que é te buscar dentro de ti mesmo. Levo tua mala, bagagem e história, mas te peço que leve embora essa minha saudade, das coisas que eu ainda nem vivi.

"Só se vê bem com o coração."