Minha cara, pra quê tantos planos?




O meu depósito de sonhos era ele. Aspirações de futuro, vontades de sermos artistas, morarmos no Camboja e escrevermos uma história para servir de exemplo pra esses casais que se amam nos becos daqui ou dali, se refugiando da maldade das pessoas ao redor. Éramos como dois pássaros: Ele me permitia e fazia eu me permitir. Eu o apoiava e o fazia acreditar mais em si. Não medíamos esforços pra ficarmos juntos e convenhamos: Era lindo quando, enfim, entrávamos no 'nosso mundo' e lá buscávamos poesia nas crueldades do mundo exterior. Crescemos na urgência de sermos fortes um pro outro e incansavelmente lutávamos pra permanecermos intactos como éramos no início. Éramos iguais: Em medos e virtudes, mas completávamos na inconstância de sermos nós. De uma hora pra outra, escureceu. A letra perdeu a rima. A música perdeu a melodia. A noite perdeu a graça. O cinema ficou lá, com a nossa pipoca sobrando. Teu violão tá aqui em casa, mas eu não quero que tu busque porque aí vai embora a última parte de ti dentro de mim, vai embora a lembrança gostosa do teu chimarrão ruim com meus acordes tortos, enrolados naquela tua coberta que me dava crises de asma. Sabe, eu lembro do teu desespero a primeira vez que quase me perdeu. Inundei teus ouvidos de gritos e tu em sussurros me ganhou de novo. Pena que isso passou, tua cor desbotou e tuas promessas se calam frente aos meus argumentos. Nossos mundos sempre foram tão diferentes, né? Simples e Complexo. Calmaria e Trovão. Iguais na diferença. Não vou te buscar em outros corpos, não tenho mais cabeça e nem idade pra isso. Busquei tantos outros em outras pessoas, e enfim quando busquei alguém em ti encontrei um pedaço de mim que eu não conhecia. Mas passa, né amor? Talvez uma ou duas semanas de muita cafeína e nicotina. Sessões de terapia com as minhas psicólogas favoritas. Talvez um baque desses não faça tanto estrago.  O que foi que aconteceu, amor? Prometemos que a maldade não nos tiraria um do outro! Quem diria que a tua própria maldade te tirou de mim? Talvez amanhã mesmo eu já esteja com outro alguém sem precisar de ti. Talvez hoje a noite mesmo eu já tenha te esquecido me inundando em outro corpo. Talvez eu passe por ti e não estremeça mais. Talvez eu não queira conversar. Talvez eu ache que tudo isso, no final, vai me fazer ter uma lembrança boa de ti... Longe de mim.

Comentários

Postagens mais visitadas